Nossa Senhora da Penha
“Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada!” (Lc 1,48). Esta profecia de Maria se cumpre na Igreja. Hoje, com festa, celebramos a Maria, com o título que o nosso povo do Espírito Santo escolheu para venerá-la e saudá-la como Mãe: Nossa Senhora da Penha, a Mãe das Alegrias.
Nossa Senhora das Alegrias, ou Nossa Senhora dos Prazeres, foi o título que os primeiros frades, em nossas terras, veneravam a Mãe de Deus. Desaparecimentos milagrosos, com o consequente encontro de um quadro da Virgem no alto da pedra, motivaram o Frei Pedro Palácios a construir no alto do morro uma pequena Igreja dedicada à virgem que insistia para ter ali sua morada. Os moradores da região que mudaram o título da Virgem para Nossa Senhora da Penha, já que a igrejinha se localizava no alto da Pedra=Penha. “Vamos à Igrejinha que fica na penha”. Daí o nome mudado para Nossa Senhora da Penha. O monte, no pensamento bíblico, é o lugar privilegiado do encontro com Deus. Maria, em nosso Estado, não deixa de nos convidar a este encontro maravilhoso que transforma as nossas vidas: “Vinde, subamos à montanha do Senhor, à Casa do Deus de Jacó: Ele nos ensinará os seus caminhos” (Is 2,2-3)
Esta é uma das devoções mais antigas no Brasil. O início da construção do Convento da Penha data de 1558, bem no início da colonização e da evangelização em nossas terras. Esta obra tão bela, que atrai fiéis orantes o ano inteiro para o alto da Penha, é mais um sinal do cumprimento da profecia de Nossa Senhora: “Todas as gerações me chamarão bem-aventurada”.
Com esta liturgia, queremos louvar a Mãe de Deus que, da Encarnação à Ressurreição, engrandece ao Senhor com sua alma, e o seu espírito exulta de alegria no Deus Salvador. A veneração de Nossa Senhora com o título de Mãe das Alegrias, após a Oitava da Páscoa remonta a uma antiga tradição que afirma que Jesus apareceu ressuscitado em primeiro lugar à sua Mãe. E a mensagem da ressurreição chegou primeiro a ela: “Alegrai-vos!” A mesma mensagem do Anjo na ocasião da Encarnação do Verbo: “Alegra-te!” O motivo da alegria no anúncio da extraordinária gravidez era a certeza da proximidade do Senhor: “O Senhor está contigo!” Mais ainda agora, Maria e toda a Igreja são convidadas a exultar de alegria no Senhor que vive e está conosco para sempre.
O tempo do luto acabou! Chegou o tempo das verdadeiras e indizíveis alegrias. O livro de Judite ajuda-nos a entender este novo momento e o papel importante de Maria nele. O livro de Judite relata a história de uma piedosa viúva que sai da sua cidade cercada pelo exército de Nabucodonosor, chefiado pelo comandante Holofernes, e vai na direção do inimigo. Sua beleza seduz o comandante. Ela o embriaga e o mata, cortando-lhe a cabeça.
O trecho que escutamos hoje é um louvor a esta mulher, pelos feitos realizados, e pela coragem assumida para salvar o seu povo das mãos dos inimigos. Acabou-se o tempo do luto. O Senhor elimina o inimigo pela mão de uma mulher. As palavras de Ozias são as mesmas de Izabel a Maria, como escutamos no Evangelho. “Bendita és tu entre as mulheres!” (Lc 1,42).
As santas mulheres do Antigo Testamento são figuras daquela Mulher por meio da qual o Verbo se fez carne para entrar a salvação no mundo. A mulher Judite se coloca como instrumento nas mãos de Deus. Ele a guia para realizar o trabalho. Maria também é aquela que acreditou e se pôs à disposição do projeto de Deus: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra” (Lc 1,38).
As mesmas palavras de Ozias, podemos aplicar a Maria, sem nenhum prejuízo para seu sentido. A tradição cristã aplica estas palavras interpretando a cabeça do inimigo como a cabeça da primitiva serpente de Gn 3,15. Também diz Ozias: “Que Deus a exalte para sempre, porque não teve medo expor a própria vida por causa da humilhação de nossa gente” (Jt 13,19). A humilhação do povo de Judite foi ter a sua cidade cercada pelo exército inimigo. Humilhação maior é ter a vida cercada pelo pecado, pelas forças da Serpente maligna. Maria não temeu expor a sua vida ao perigo, assumindo a missão de ser a Mãe do Salvador, virgem, ainda não desposada.
Por seu sim e por seu sacrifício, por permanecer fiel, quando o vinho da alegria já faltava para a humanidade inteira, ela “veio em socorro de nossa ruína, caminhando retamente diante do nosso Deus” (Jt 13,20). Por isso, Deus a exaltou entre as glórias de seu povo: “Você é a glória de Jerusalém! A grande honra de Israel!” (Jt 15,9).
Maria, bendita entre as mulheres, é bendita também pelo “fruto do teu ventre!” (Lc 1,42). Sua escuta atenta à Voz do Senhor, sua docilidade à vontade de Deus, trouxeram ao mundo o maior de todos os frutos: A Palavra Eterna do Pai, o Filho de Deus, a Segunda Pessoa da Trindade. Esta vinda de Jesus que muda a realidade vigente, simbolizadas nas duplas de seu canto: os humildes que são exaltados enquanto os arrogantes caem de seus tronos; os famintos que se fartam, enquanto os ricos têm suas mãos esvaziadas; não é simplesmente uma mudança econômica, mas os sinais dos tempos messiânicos em que as coisas do mundo são derrotadas, e as de Deus são glorificadas.
Celebrar Nossa Senhora das Alegrias, a Virgem da Penha, nestes tempos duros de pandemia, é recordar de onde nos vem a verdadeira alegria: da certeza da presença do Senhor conosco, que em Maria, temos um sinal maravilhoso. Busquemos esta Penha, o local especial de encontro com Deus. E da certeza desta proximidade, profeticamente, proclamemos a certeza da alegria! A certeza de que tudo que é de Deus é glorificado! Para sermos de Deus, imitemos a Maria na disponibilidade ao Senhor e à sua vontade, para que desta relação, brote para o mundo o fruto mais bonito: o próprio Jesus, e Jesus Ressuscitado, para fazer novas todas as coisas.
Pe. Dener Evangelista Barbosa de Sales