CAPÍTULO IX – A ENORME PEDRA LEVANTADA POR ORAÇÃO
Certo dia, quando os irmãos trabalhavam na construção do mosteiro, achava-se uma pedra que resolveram levar para a obra. E, já que dois ou três não a conseguiam remover, outros se lhes juntaram. A pedra, porém, continuava imóvel como se tivesse raízes no chão. A coisa era tal que dava claramente a entender que em cima da pedra estava sentado o próprio antigo inimigo, já que as mãos de tantos homens não a podiam mover. Mandaram, então, comunicar a dificuldade ao homem de Deus, pedindo-lhe que viesse e, rezando, expulsasse o inimigo, a fim de que pudessem levantar a pedra. Aquele veio sem demora, orou, deu a bênção, e com tanta presteza foi a pedra erguida, que se diria que nunca tivera peso algum.
CAPÍTULO X – O INCÊNDIO IMAGINÁRIO DA COZINHA
Então ao homem de Deus pareceu oportuno cavarem a terra naquele mesmo sítio. Ora, sucedeu que, cavando muito fundo, os irmãos encontraram um ídolo de bronze. Atiraram-no logo para longe, indo o mesmo cair por acaso na cozinha; em consequência, viu-se de repente sair fogo do lugar, e pareceu aos olhos de todos que o prédio da cozinha era devorado pelas chamas. Como, jogando água para apagar o fogo, fizessem grande vozerio, o homem de Deus, atraído pelo ruído, aproximou-se. Considerando, então, que o fogo estava somente nos olhos dos irmãos e não nos seus, baixou logo a cabeça em oração, e, chamando a si os irmãos que via iludidos pelo incêndio fantástico, admoestou-os a persignarem os olhos para que percebessem estar ileso o edifício da cozinha, e deixassem de ver as chamas imaginárias que o antigo inimigo lhes sugeria.
CAPÍTULO XI – O MONGE ESMAGADO É RESTABELECIDO PELA ORAÇÃO DE BENTO
Doutra feita, quando os irmãos, obedecendo a uma exigência da construção, levantavam um pouco mais certa parede, o homem de Deus conservava-se na cela, aplicado à oração. Apareceu-lhe então o antigo inimigo insultando-o, e deu-lhe a saber que ia ter com os irmãos no trabalho. Informado, o homem de Deus mandou-lhes a toda pressa um mensageiro, dizendo:
“Irmãos, agi com cautela, pois aí vai agora o espírito maligno”.
Mal acabara de falar o que levava a mensagem, e já o mau espírito derrubara a parede em obras e sob os seus escombros esmagara um jovem monge, filho de certo oficial da corte. Consternados todos e cheios de aflição, não pelo dano da parede mas pelo esmagamento do irmão, correram a contar com profunda dor o desastre ao venerável Pai Bento. Este ordenou que lhe levassem o corpo dilacerado do rapaz. Só puderam levá-lo num manto, pois as pedras da parede lhe tinham triturado não só os membros mas também os ossos.
O homem de Deus mandou no mesmo instante que o pusessem em sua cela sobre a esteira onde costumava rezar. A seguir, despediu os irmãos, fechou a cela e debruçou-se em oração mais instante do que de costume. Coisa admirável! Na mesma hora, o abade mandava novamente o jovem ao trabalho, são e forte como dantes, para que terminasse a parede com os irmãos aquele de cuja morte se queria aproveitar o antigo inimigo para zombar de Bento.
CAPÍTULO XII – OS MONGES QUE COMERAM FORA DO MOSTEIRO
Nesses entrementes, começou o homem de Deus a possuir também o espírito de profecia, predizendo o futuro e anunciando aos presentes as coisas distantes.
Era costume do mosteiro, todas as vezes que os monges saiam para qualquer missão, que se abstivessem de comer e beber fora do mosteiro.
Observava-se com toda a solicitude esse uso da Regra. Certo dia, porém, saíram alguns irmãos a mandado, e viram-se obrigados a ficar fora até hora mais tardia. Sabendo que perto donde estavam residia uma religiosa mulher, entraram em sua casa e tomaram alimento. Quando tarde voltaram ao mosteiro, pediram, como de costume, a bênção ao Pai; o qual logo os interrogou:
“Onde comestes?”
“Em parte alguma”, responderam.
Ao que retorquiu:
“Porque mentis desse modo?
Acaso não entrastes na casa de tal mulher?
Não tomastes tais é tais comidas, não bebestes tantos copos?”
Como o venerável Pai lhes descrevesse não só a hospedagem da mulher, mas também o gênero dos pratos e o número dos copos que haviam tomado, reconheceram tudo que haviam feito, e, caindo trêmulos a seus pés, confessaram a falta. O homem de Deus, porém, logo lhes perdoou a culpa, considerando que para o futuro não tornariam a cometer tal em sua ausência, pois saberiam que lhes estava presente em espírito.
CAPÍTULO XIII – O IRMÃO DO MONGE VALENTINIANO, QUE COMERA EM VIAGEM.
O monge Valentiniano, já mencionado no início, tinha um irmão, homem leigo mas piedoso, o qual, para receber a bênção do homem de Deus e visitar o irmão, costumava anualmente ir, em jejum, da sua casa ao mosteiro. Certa vez, quando estava em viagem para ali, associou-se-lhe outro viajante, que levava alimentos para a jornada. Quando a hora ia adiantada, este disse-lhe:
“Vamos, irmão, comer alguma coisa para não nos cansarmos no caminho”.
Aquele, porém, respondeu-lhe:
“Longe de mim, irmão; não farei isto, pois sempre tive o costume de comparecer em jejum ante o venerável Pai Bento”.
Ouvindo esta resposta, o companheiro calou-se por algum tempo. Depois, porém, de terem caminhado mais um pouco, insistiu novamente em que comessem. Aquele que decidira chegar em jejum, recusou. O que convidara, então, tornou a calar-se, e consentiu em prosseguir um pouco mais com ele, sem comer.
Quando caminhavam mais adiante e a hora tardia chegou a fatigá-los de tanto andar, deram com um prado e uma fonte, e tudo mais que podia parecer agradável para restaurar o corpo. Disse, então, o companheiro de viagem:
“Aqui temos água, temos relva e temos um lugar ameno, onde podemos recobrar forças e descansar um pouco, a fim de terminar em boas condições a nossa marcha”.
Com os ouvidos afagados por essas palavras e os olhos seduzidos pelo lugar, o irmão de Valentiniano deixou-se persuadir pelo terceiro convite; consentiu finalmente e comeu.
À tardinha chegou ao mosteiro. Levado à presença do venerável Pai Bento, pediu-lhe que o abençoasse. Mas no mesmo instante o santo homem exprobrou-lhe o que fizera em viagem, dizendo:
“Como é, irmão, que o maligno inimigo, que te falou pela boca do companheiro, não conseguiu induzir-te nem da primeira vez,nem da segunda, mas da terceira convenceu-te e alcançou sobre ti a vitória que planejava?”
Reconhecendo então, a culpa do seu fraco espírito, o visitante prosternou-se aos pés do santo, e tanto mais chorava e se envergonhava, quanto via que, apesar da distância, a sua falta fora cometida ante os olhos do Pai Bento.
PEDRO: Bem vejo que no coração desse santo homem habitava o espírito de Eliseu, que esteve presente ao discípulo distante (4 Reis 5,26).
CAPÍTULO XIV – BENTO DESCOBRE O DISFARCE DO REI TÓTILA
GREGÓRIO: Convém, Pedro, que por enquanto te mantenhas em silêncio, para que aprendas coisas ainda maiores.
No tempo dos Godos, como seu rei Tótila tivesse ouvido que o santo varão possuía o espírito de profecia, dirigiu-se ao mosteiro e, parando a certa distância, mandou anunciar a sua vida. Como logo lhe viesse do mosteiro a resposta que fosse, Tótila, que sempre tivera um espírito traiçoeiro, cuidou de explorar se realmente o homem de Deus possuía o espírito de profecia. A um dos guardas de espada, chamado Rigo, depois de dar os próprios calçados e fazer vestir as vestes reais, mandou que se apresentasse ao homem de Deus, como se fosse o rei em pessoa. Para seu séquito destacou os três condes mais chegados ao rei: Vulterico, Ruderico e Blidino, para que, caminhando a seu lado, fingissem diante do homem de Deus acompanhar o próprio rei Tótila. Deu-lhe também outros pagens e guardas, para que, à vista de tal comitiva e das vestes de púrpura, fosse tido pelo rei.
Quando Rigo, ornado desses trajes e acompanhado do numeroso cortejo, entrou no mosteiro, o homem de Deus estava sentado bem longe. Ao vê-lo chegar, e quando já podia ser ouvido, gritou-lhe estas palavras:
“Deixa, filho, deixa tudo que trazes; não é teu”.
Rigo caiu por terra no mesmo instante, e encheu-se de pavor por ter procurado enganar tão grande homem. Também os que vinham com ele arrojaram-se ao chão. Uma vez erguidos, nem tiveram a ousadia de acercar-se de Bento, mas, voltando ao seu rei, contaram-lhe, apavorados, quão depressa tinham sido descobertos.
CAPÍTULO XV – DUAS PROFECIAS
Então Tótila foi ter pessoalmente com o homem de Deus. Quando o rei, de longe, avistou Bento assentado, não ousou aproximar-se, mas prostrou-se por terra. E, como o homem de Deus lhe dissesse por duas ou três vezes:
“Levanta-te”,
sem que o rei se atravesse a fazê-lo, Bento, servo de Jesus Cristo, se dignou de encaminhar-se pessoalmente até o rei prostrado, levantou-o do chão, censurou-lhe as más ações e ainda prenunciou em poucas palavras tudo que estava para suceder-lhe:
“Muito mal cometes, muito mal cometeste; já é tempo de pores termo à iniqüidade. Na verdade, entrarás em Roma, atravessarás o mar, reinarás nove anos e no décimo morrerás”.
Ouvido isto, o rei encheu-se de terror e, após pedir a oração do santo, foi-se embora. A partir desse tempo, começou a ser menos cruel. Pouco depois entrou em Roma e, em seguida, passou a Sicília. No décimo ano do seu reinado, a juízo de Deus onipotente, perdeu o reino ao mesmo tempo que a vida.
Também o bispo de Canúsio costumava visitar o servo de Deus, que muito o amava pelo mérito de sua vida. Um dia, conversando o prelado com Bento sobre a entrada de Tótila em Roma e a ruína da cidade, disse aquele:
“Por esse rei a cidade será de tal modo destruída que deixará de ser habitada”.
Ao que redarguiu o homem de Deus:
“Roma não será destruída pelos gentios, mas, devastada por tempestades, raios, tormentos e terremotos, definhará por si mesma”.
Os mistérios desta profecia já nos são mais claros do que a luz, pois vemos nesta cidade desmoronadas as muralhas, derribadas as casas, destruídas as igrejas pelo furacão, e contemplamos como em frequentes desabamentos vêm abaixa os edifícios, esfalfados de adiantada velhice. O discípulo Honorato de quem tenho o relato, não o assevera ter ouvido do próprio santo, mas afirma que pelos outros irmãos lhe foi contado que Bento o disse.
CAPÍTULO XVI – O CLÉRIGO LIBERTADO DO DEMÔNIO
Pela mesma época certo clérigo da igreja de Aquino estava sendo atormentado pelo demônio. Já Constâncio, bispo dessa igreja, o fizera percorrer muitos sepulcros de mártires para alcançar a cura. Alas os santos mártires de Deus não lhe quiseram conceder o dom da saúde, para assim demonstrar quanta graça havia em Bento.
Foi, pois, o clérigo levado ao servo de Deus onipotente, Bento, o qual, orando ao Senhor Jesus Cristo, logo expulsou do possesso o antigo inimigo. Depois de curá-lo, o santo preceituou-lhe:
“Vai, e de agora em diante não comas carne, nem te atrevas a receber uma ordem sacra; no dia em que ousares profanar uma ordem sacra, recairás imediatamente sob o poder do demônio”.
Foi-se embora o clérigo curado e, como o castigo recente costuma amedrontar, guardou por algum tempo tudo que o homem de Deus mandara. Quando, porém, depois de muitos anos, mortos todos os seus superiores, viu que outros mais jovens lhe passavam à frente nas ordens sacras, negligenciou, como que esquecido pelo longo tempo, as palavras do homem de Deus, e apresentou-se à ordenação. No mesmo instante apoderou-se dele o diabo, que já o deixara, e não cessou de o atormentar até que lhe arrancou a alma.
PEDRO: Esse homem de Deus, a meu ver, chegou a penetrar até nos segredos da Divindade, pois viu claramente que o clérigo estava entregue ao demônio para que não ousasse apresentar-se à ordenação.
GREGÓRIO: Porque não havia de conhecer os segredos da Divindade aquele que da Divindade guardou os mandamentos? Pois está escrito:
“O que adere ao Senhor, é um só espírito”. (I Cor. 6, 17)
PEDRO: Se aquele que adere ao Senhor, se torna um só espírito com o Senhor, porque é que o mesmo grande pregador diz:
“Quem conheceu a mente do Senhor, ou quem foi seu conselheiro?” (Rom. 11, 34)
Parece muito incongruente que alguém ignore o pensamento daquele com o qual se tornou um só.
GREGÓRIO: Os santos varões, enquanto são com Deus uma só coisa, não ignoram o pensamento do Senhor. É o mesmo Apóstolo quem diz:
“Que homem sabe aquilo que é do homem,
senão o espírito do homem que está nele?
Assim também o que é de Deus,
ninguém conhece senão o Espírito de Deus”. (I Cor. 2, 11)
Mas, para mostrar que sabia as coisas de Deus, Paulo acrescentou:
“Nós não recebemos o espirito deste mundo,
mas o espírito que é de Deus”. (I Cor. 2, 12)
E de novo diz:
“O que olho não viu, nem ouvido escutou,
nem subiu ao coração do homem,
é o que Deus preparou para os que o amam;
a nós, porém, Ele o revelou pelo seu Espírito”. (I Cor. 2, 9-10)
PEDRO: Se, portanto, ao mesmo Apóstolo foram reveladas pelo Espírito divino as coisas de Deus, como, então, nos preveniu com as seguintes palavras sobre a questão que eu propus:
“Ó abismo das riquezas da sabedoria e da ciência de Deus!
Como são incompreensíveis os seus juízos
e imperscrutáveis os seus caminhos!” (Rom. 11, 33)
Eis, porém, que, ao dizer estas coisas, me aparece outra questão. Com efeito, o profeta Davi, falando ao Senhor, diz:
“Nos meus lábios pronunciei todos os juízos da tua boca” (Salmo 118, 13)
E, visto que conhecer é menos que pronunciar, porque declara Paulo incompreensíveis os juízos de Deus, quando Davi atesta que não só os conheceu todos, mas até os pronunciou em seus lábios?
GREGÓRIO: Em poucas palavras respondi às duas perguntas, quando há pouco disse que os santos varões, enquanto são com o Senhor uma só coisa, não ignoram o pensamento do Senhor. Pois todos os que seguem devotamente o Senhor, por essa devoção estão com Deus; mas, como ainda se acham sob o peso da carne corruptível, ao mesmo tempo não estão. Assim, enquanto juntos com Deus, conhecem-lhe os ocultos juízos; enquanto separados, ignoram-nos. Como, de um lado, ainda não penetram perfeitamente os mistérios de Deus, declaram incompreensíveis os seus juízos; mas como, de outro lado, estão unidos de espírito com o Senhor e nessa adesão percebem alguma coisa na medida do que lhes é dado nas palavras sagradas da Escritura ou em secretas revelações, conhecem isso e o proferem. Ignoram, portanto, os juízos que Deus cala, e conhecem os que Ele manifesta. Por isto, o profeta Davi, depois de dizer:
“Em meus lábios pronunciei todos os juízos”,
logo acrescenta:
“da tua boca”,
como se dissesse abertamente:
“Pude conhecer e proferir aqueles juízos dos quais soube que tu os proferiste. Aqueles, porém, que tu mesmo não disseste, os escondes sem dúvida ao nosso conhecimento”.
Assim é que concordam entre si as duas sentenças, a do Profeta e a do Apóstolo, segundo as quais são, de um lado, incompreensíveis os juízos de Deus, e são, de outro lado, proferidos por lábios humanos os juízos anteriormente pronunciados pela boca do Senhor; pois os juízos de Deus podem ser conhecidos pelos homens quando revelados por Deus, e não o podem quando não revelados.
PEDRO: Vejo que, por ocasião da minha pergunta, se esclareceu o sentido da coisa. Mas, se ainda há mais sobre os milagres deste homem, peço-te que o contes.
CAPÍTULO XVII – BENTO PREDIZ A DESTRUIÇÃO DO PRÓPRIO MOSTEIRO
GREGÓRIO: Certo nobre chamado Teóprobo fora convertido pelos conselhos do mesmo Pai Bento, e gozava, por seus merecimentos, de grande confiança e familiaridade junto ao Santo. Entrando certa vez na cela deste, encontrou-o a chorar muito amargamente; ali deteve-se parado por muito tempo; notando, porém, que as lágrimas não cessavam, e que o homem de Deus, em vez de chorar rezando, como costumava, chorava de tristeza, perguntou-lhe finalmente qual a causa de tão grande amargura.
“Todo este mosteiro que construí e tudo que preparei para os irmãos”,
respondeu-lhe o homem de Deus,
“será entregue aos gentios, a juízo de Deus todo-poderoso; a custo pude alcançar que deste lugar me fossem poupadas as vidas dos habitantes”.
O que Teóprobo então ouviu em palavras, nós agora estamos vendo com os olhos, pois sabemos que o mosteiro foi recentemente destruído pelos Lombardos: durante a noite enquanto dormiam os irmãos, entraram ali, faz pouco tempo, e saquearam tudo, mas não conseguiram apoderar-se de um só homem. Assim Deus cumpriu o que prometera ao fiel servo Bento: embora entregasse os bens aos gentios, protegeria as vidas. Nisto se vê que Bento teve a sorte de S. Paulo que viu seu navio alijado de tudo, mas recebeu por consolação a vida de quantos o acompanhavam (Atos 27).
CAPÍTULO XVIII – O BARRIL OCULTO
Um dia o nosso Exilarato, que conheceste já feito monge, foi por seu senhor encarregado de levar ao homem de Deus no mosteiro dois desses recipientes de madeira, vulgarmente conhecidos pelo nome de barris, cheios de vinho. O servo levou um e escondeu o outro no caminho. O homem de Deus, porém, a quem não ficavam ocultos os fatos distantes, recebeu o barril com palavras de agradecimento, acrescentando ao moço que se despedia:
“Cuidado, filho, não bebas do barril que escondeste,
mas inclina-o com cautela e verás o que há dentro.”
Muito envergonhado, o jovem afastou-se do homem de Deus; e, uma vez de volta, querendo submeter à prova o que ouvira, virou o barril, e logo saiu de dentro uma serpente. Então, o servo Exilarato, por aquilo que encontrou no vinho, sentiu pavor do mal que praticara.
CAPÍTULO XIX – A ACEITAÇÃO DOS LENÇOS É DESCOBERTA
Não longe do mosteiro havia um povoado onde não pequeno número de homens fora convertido do culto dos ídolos à fé de Deus, graças às exortações de Bento; ali viviam também algumas monjas. A tal lugar o servo de Deus enviava frequentemente alguns dos irmãos para exortarem aquelas almas. Certo dia, como de costume, mandou um monge, o qual depois da alocução aceitou, a instâncias das monjas, uns lenços, que escondeu debaixo do hábito. Apenas chegado ao mosteiro, começou o homem de Deus a repreendê-lo com a mais viva amargura, dizendo:
“Como entrou a iniqüidade no teu coração?”
O monge ficou atônito, pois, esquecido do que havia feito, ignorava o motivo da repreensão. Bento então lhe disse:
“Não estava eu presente quando aceitaste os lenços das servas de Deus e os guardaste debaixo do hábito?”
Prostrando-se logo a seus pés, o monge se arrependeu da estulta ação e deitou fora as peças que escondera.